domingo, 15 junho 2025

Independências: Primeiro liceu de Cabo Verde guarda legado à espera de requalificação

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O antigo seminário e liceu da ilha de São Nicolau, que acolheu deportados da Madeira e foi o equivalente à primeira escola secundária de Cabo Verde, completa 159 anos e precisa de obras para preservar a história.

 

O Instituto do Património Cultural (IPC), considera que a Ribeira Brava, na ilha de São Nicolau, a primeira localidade a ser classificada como centro histórico nacional, "guarda até hoje marcas do passado, com ruas estreitas, casas antigas e edifícios emblemáticos que testemunham a vida cultural, religiosa e académica que por ali floresceu, entre os quais se destaca o antigo seminário liceu, considerado um farol de cultura do século XIX", numa caminhada que havia de levar à independência da antiga colónia portuguesa, em 1975.

 

 

"Atualmente, o edifício alberga os padres que trabalham nas paróquias do município da Ribeira Brava. Funciona também aos domingos com a catequese e, durante a semana, há apoio educacional. Já foram feitas algumas melhorias na vedação, mas carece de uma intervenção profunda", explicou à Lusa o padre Hernany Dias, pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e da Lapa, na ilha de São Nicolau, um dos responsáveis pelo espaço.

O edifício tem raízes antigas: de 1866 até ao ano letivo de 1917/1918, funcionou como o primeiro liceu de Cabo Verde.

Depois, o ensino secundário foi transferido para a vizinha ilha de São Vicente, mas o edifício manteve funções educativas em São Nicolau até 1931, como escola primária superior e instituto de instrução.

Foi em 1931 que o edifício assumiu uma das suas funções mais marcantes: acolher os deportados da revolta da Madeira, em Portugal, tornando-se também símbolo de repressão e um marco na história colonial.

Sem apoio direto do Estado, a manutenção tem sido feita "à medida das possibilidades", num esforço conjunto dos três padres que ali residem.

"Faltam algumas melhorias, como a pintura de certos espaços e, talvez, a renovação de algum mobiliário interno. São essas as necessidades mais urgentes neste momento", apontou Hernany Dias.

Para o pároco, só com o envolvimento de todos — entidades públicas, privadas, religiosas e sociedade civil — será possível garantir a preservação de um património que conta um pedaço da história do país.

"O legado educacional continua presente. Trabalhamos no apoio escolar e na formação cristã, mas sentimos que muito mais poderia ser feito, se houvesse melhores condições. Os turistas passam e perguntam pela história do edifício", relatou.

Apesar do seu valor histórico, a visita ao interior é hoje limitada por funcionar como residência sacerdotal.

No entanto, o exterior continua a despertar a curiosidade de guias turísticos e estudiosos da história local.

A principal dificuldade para a preservação é de ordem financeira, salientou.

"Estes edifícios históricos requerem recursos contínuos para a sua manutenção. E, muitas vezes, os custos ultrapassam as capacidades locais, pela dimensão do espaço. O edifício tem um polivalente, uma capela, um salão. Tudo isso implica encargos. São necessárias sinergias da comunidade — sejam públicas, privadas ou religiosas —, para que cada um contribua com aquilo que pode para valorizar esta história, que é de todos", afirmou.

Para Hernany Dias, é urgente abrir canais de diálogo e alcançar consensos sobre o futuro do espaço.

"A história precisa ser preservada. Precisamos sentir este património como nosso. Só assim poderemos cuidar dele", apelou, deixando ainda no ar a proposta de criação de um núcleo museológico que conte a história do edifício e o abra ao público.

O espaço foi, durante décadas, considerado um verdadeiro "celeiro intelectual" de Cabo Verde. Por lá passaram nomes ligados à música, à arte e à cultura.

Entre os anos letivos de 1866/1867 e 1917/1918, segundo dados oficiais, matricularam-se no seminário e liceu de São Nicolau cerca de 3.500 alunos, incluindo estudantes da Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e até de Moçambique — o que, para o atual zelador do espaço, demonstra a sua importância, não só para o arquipélago, como para todo o continente africano.

Durante cerca de um ano e meio, até ao final de 1932, o seminário e o campo de concentração no município vizinho de Tarrafal de São Nicolau funcionaram como presídio para os deportados da Madeira.

O Instituto do Património Cultural (IPC), considera que a Ribeira Brava, na ilha de São Nicolau, a primeira localidade a ser classificada como centro histórico nacional, "guarda até hoje marcas do passado, com ruas estreitas, casas antigas e edifícios emblemáticos que testemunham a vida cultural, religiosa e académica que por ali floresceu, entre os quais se destaca o antigo seminário liceu, considerado um farol de cultura do século XIX", numa caminhada que havia de levar à independência da antiga colónia portuguesa, em 1975.

A Semana com Lusa

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