A independência real e completa poderá acontecer quando um povo for capaz de assumir por si próprio o seu destino, pela livre escolha de sistema político, jamais através de uma imposição plagiada costumeira para servir como pretexto de uma autodeterminação para a universalidade das nações. Os meios possíveis equacionados são vários, a começar pela luta armada contra o invasor colonizador ou governo com a finalidade de expulsão, sendo este primeiro passo aceitável.
Por Péricles Tavares
A independência, a vitória inequívoca da vontade e afirmação da nação deve passar pela transição de governo, pela divisão dos ativos, de projetos honestos nas futuras relações entre os dois estados na base do respeito mútuo, um acordo e um compromisso rubricado e autenticado por ambas as partes.
A história se repete com bons líderes, a exemplo de Portugal que conquistou a independência no campo da honra por D. Afonso Henriques contra o Reino de Castela, a Independência do Brasil proclamada por D. Pedro I, a independência da América conquistada pelo revolucionário George Washington contra o Reino da Grã-Bretanha, ou até Guiné–Bissau, que confrontou e rechaçou as forças ocupacionistas portuguesas e proclamou a independência nas zonas libertadas por Amílcar Lopes Cabral, tudo valeu!
A independência é um ato bravura, mas também de nobreza, de conquista e nunca um ganho porque ela não pode ser negociada pela compra, venda ou por cedências, daí a fragilidade dos líderes africanos que em Cabo Verde não faz diferença, estando carentes nas demandas do poder e declinando a soberania consensual. O critério para uma melhor assunção ao poder, tarefa de organização e construção do estado de direito pela via do processo de transição referendada ou tratado político, enquanto segundo plano é em nada desejável.
A independência, a vitória inequívoca da vontade e afirmação da nação deve passar pela transição de governo, pela divisão dos ativos, de projetos honestos nas futuras relações entre os dois estados na base do respeito mútuo, um acordo e um compromisso rubricado e autenticado por ambas as partes.
Dando um passo à retaguarda na historicidade para se perceber: Cabo Verde de colónia ou território da penúria dependente para fastidiosa independência tal como foram as negociações, com um povo perplexo que se indaga. Sim, valeu a pena a independência.
A paciência se esgota, os governantes invisuais na condição espiritual, sem imaginação para transformar as pedras das ilhas em pães, com o mar com um caminho de unificação refrescante das ilhas, sendo a maior mais valia da cadeia de sustentabilidade alimentar nacional, estão sendo ignoradas.
A verdade sobre as independências dos filhos de África, em que se insere Cabo Verde, vai repleta de ambiguidades ao se analisar o que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, de fundação da maior organização internacional, a ONU (Organização das Nações Unidas), um clube sob a batuta dos cinco estados potenciais e dominadores a orientar novas metas, novos rumos, a manutenção da supremacia aos povos oprimidos em processo de desenvolvimento humano, o cabresto.
Sob a doutrina marxista-leninista, no lumiar da guerra fria, as ondas provocatórias de instabilização para descolonização do continente africano e latino sul-americano. tendo consequências gravosas para o imperialismo colonial que se viu forçado a retirar-se dos territórios secularmente ocupados sem qualquer responsabilização.
Todavia, o compromisso de continuar o saque, aproveitando o obscurantismo da assimilação em entendimento científico, da descoberta e valorização da matéria-prima a extrair do subsolo em potencial e possível transformação para o mercado, falha.
Pela promiscuidade, a corrupção e o pecado do “éden”, figura-se uma considerável fração dos líderes da hipocrisia africana. Quanto mais elevado o índice de corrupção no território, mais enfraquece o estado de direito com consequências nefastas para a condição social dos cidadãos. O papel do estado reflete-se no comportamento dos governantes controlados pela burocracia imprescindível, admissível pela vitalidade e equilíbrio das despesas públicas. Menos burocracias, mas mais corruptas!
O fim do imperialismo que se transfere para o neocolonialismo, o mais selvagem é ainda administrado pelos legítimos e tiranos filhos da terra, o lorde do sistema democrático da primeira república muda para a segunda república os incumpridores das leis e da ordem. O povo já não resmunga, confortado aos soluços com o amanhã incerto, sem entendimento se vai continuar vivo, mas isto pouco importa porque do povo não reza a história.
O Povo de Cabo Verde, o pacato crioulo, intriga-se. Será que a independência, a bandeira, o hino, a língua oficiosa como engodo e tudo mais oferecido, é uma decisão política a referendar, que nada teve e tem alguma semelhança ou merecimento com o nosso percurso histórico da nação. Ser cabo-verdiano é ser sofredor, lutador e resiliente, porque suportamos muita fome e sede sem reclamação e mesmo assim, se só por isso não bastasse, os governantes escondem do olhar, do radar do povo, porque sabem a sentença que merecem.
Cabo Verde está em vias de conquistar a sua Independência como povo de pleno direito. A soberania, passada os cinquenta anos de enganos e promessas fúteis, e a fatídica democracia partidária, terá um governo suficiente para o seu povo, com um republicano governante convicto, sempre presente e participativo para que tanto prevaleça a verdade.
Comemorar os cinquenta anos da independência com corruptos no poder político é algo estranho. É estrondoso como se encontram todos a devorar em banquetes, alheios ao sofrimento do povo que desfalece à míngua. Que seja considerado um crime acrescido por ser cometido por quem tem responsabilidade acrescida e transfigurado em monstro troglodita, um guia insensível credenciado e doado por contrato da parcial ignorância.
A Juventude, e toda a criatura humana que deseja ser gente de absoluta dignidade na presente situação de carência em toda dimensão social, direciona-se para terra longe à procura de melhores venturas, depois de contribuir com sacrificadas poupanças, as remessas monetárias, para assim poder satisfazer o esbanjamento impiedoso pelos laxistas, as panças governantes da oportunidade e parentescos em nome da solidariedade para com os que por cá esperam.
Cabo Verde continua a ser uma extensão territorial da potência colonizadora à espera de uma possível transição de poderes referendada pelos emancipados cidadãos do arquipélago a eleger um governo meritocrata com elevado espírito de servir que em momento algum é achado usurpador dos bens públicos, gente que governa de cérebro bem higienizado à cabo-verdiano sem privilégio demagógico.
Cinquenta anos de labuta agonizante dos filhos das Ilhas debaixo da batuta de sucessivos governos que se deleitaram com as esmolas, da compaixão dos povos e de governos atentos, vendo a comunidade internacional em via de colapso.
A independência de Cabo Verde não passou de uma utopia. A fome flagela, a sede atormenta, definha e mata, os transportes marítimos e aéreos, vetores indispensáveis para a nossa existência e sobrevivência coletiva, torna Cabo Verde num estado frágil sem políticas adequadas às necessidades internas para florescer uma economia desejável e sustentável. O país carece de equacionamento, de um novo rumo, de um novo homem do leme, de um patriota capaz, que por merecimento existe.
O Homem, o mar, as Ilhas, constituem a principal riqueza e património nacional cabo-verdiano. Com tais tesouros nacionais, deveria começar a construção do estado forte e independente. Em tempo, e sem mais demora para a reconstrução do estado, com uma correção em absoluto das diretivas constitucionais, das demais normas prescritas, de renegociar os tratados internacionais injustos, de sair da condição de ridicularizado pelo trabalho e crescimento económico continuado. Destruídos uns, outros construídos, com absoluto critério nacional e os outros, insignificantes, para o lixo. Caso contrário, o estado ridículo passa à condição de estado anexado.
O Povo das ilhas logo cedo aceitou a independência sobre promessas de ver a sua condição de vida melhorada, o que aconteceu muito abaixo do esperado por causa da corrupção que avassalou o poder político administrativo público. Agora reina a incerteza interrogativa, se valerá a pena viver da independência, da democracia, do voto a favor da oligarquia, da pequena burguesia ou, em última análise, o virar de costas às ilhas, para então fechar os olhos e ser esquecido.
O estado que não for capaz de assumir as suas responsabilidades de garantir a soberania pela segurança alimentar, a ordem interna para desenvolvimento harmonioso e garantido mais dotado de espírito de orientação aos cidadãos a conquistar a maturidade, e a felicidade do mesmo, define o estado fracassado, um governo indesejável gerenciando a corrupção e violência pelos grupos conflituosos, agressivos e armados.
Com um governo do estado administrativo imprestável, ineficaz, que não possibilita serviços basilares de saúde, de educação de qualidade mínima aceitável, porque a corrupção, tanto alastrante como alarmante, se encontra em todo a estrutura organizativa do estado, sendo a mais conhecida a partidarização do aparelho do estado. Assim se encontra o estado da nação cinquenta anos depois da Independência de Cabo Verde.
A calamidade endémica que afeta toda a estrutura do estado tem significado, com a corrupção visível na lapela da jaleca do imbecil político que se sente condecorado e lisonjeado pelo povo. Um governo míope que não consegue enxergar todas as ilhas e exerce o poder, controla e comanda forças da ordem para pôr fim ao banditismo com impacto negativo na capital da república, não merece a independência, nem os sacrifícios dos ancestrais guerreiros a favor das liberdades e garantias ameaçadas.
A República de Cabo Verde, por estranho que pareça, é um estado neoliberal com falso apelido de estado do bem-estar social, um estado democrático, pelo fato de admitir os resultados eleitorais resultante da votação forjada, mas de carácter universalista, o que não justifica o descalabro, a firmação do estado fragilizado. Em suma, Cabo Verde não se qualifica pela razão inequívoca simples: corruptos e larápios à solta dificultam a transição para estado intermediário em termos de produção e rendimento isento de provisão e a depender da caridade internacional.
Portugal, aquando das negociações para a viabilização da independência de Cabo Verde, considerou, em atitude honrosa e compensatória, dar aconselhamento aos guerrilheiros reivindicadores da situação a não seguir, do caminho da separação entre o império e a colónia, de optar pela autonomia, porque Cabo Verde na altura, e presentemente, não reunia, nem reúne, as condições mínimas para ser um estado viável, resultado atrelado na dependência de Portugal em todas as vertentes sociais.
Em a toda dimensão da verdade, Portugal se libertou da ditadoria fascista salazarista e caetanista pela revolta dos Capitães de Abril, a conhecida Revolução dos Cravos, pela causa e pelos feitos inexpugnáveis e heroicidade do seu líder, o grande líder que foi e será perpetuamente venerado, Amílcar Lopes Cabral.
Amílcar Lopes Cabral, da luta de libertação à liberdade dos homens, de Minho a Timor!
Por toda a boa vontade de união entre povos falantes da língua oficial portuguesa, fundada na sigla CPLP, uma organização internacional de fachada separatista que entra para a história da hipocrisia das relações entre povos lusófonos, bastando observar o tratado constituinte. Todos juntos, a caminhar como um só povo distinto na Europa, na África, na América, na Ásia e no mundo, que o fastio racial expurga.
Em tempos murmurais alguém afirmou que: “a maior contribuição que se possam dar como ajuda seja a diáspora não regressar a Cabo Verde”, testamento em vida!
O império não admite derrota, apenas recua, mas sempre volta ao combate e vence. Assim foi na Guiné Portuguesa, pela ignorância, pelo tribalismo que se esfuma em golpe palaciano com a separação de dois estados ingénuos e imaturos sem afirmação, com o estado do tribunal funcional de zona, o primeiro descalabro.
A constituição da república de Cabo Verde de 1982, catapulta a ambição possível para a conquista do estado social na última década do século XX, com a abolição do artigo 4º da carta magna, que movimenta a esperança e aponta para a democracia, com eleições universalistas, livres e multipartidárias com a participação do povo pela primeira vez identificado como cidadão. O território, povo, independência, direito constitucional, soberania, língua de boa vontade, aceite e adotado (num cabresto perpétuo), com hino e bandeira, tem finalmente um governo, mas é um governo alegadamente vendilhão e corrupto na administração do fisco, uma segunda república das bananas em alternância, mas sem alteração social significativa.
Populistas adventistas partidaristas da democracia, digo demonocracia, à época da década dos anos noventas do século transato, eram combatentes contraditórios à doutrina cabralista de forma agressiva e profundamente raivosa.
Na visão idealista dos inaptos políticos, os trapaceiros e divisionistas viciados no poderio do alheio e na coisa pública pertença de todos, acharam por mal das suas cumplicidades afirmar em sessão solene que a Amílcar Lopes Cabral só lhe foi concedida a nacionalidade pela mudança de regime na pátria à qual entregou o seu melhor, a VIDA, pela liberdade. Devido a isto, foi-lhe negado o estatuto de Chefe de Estado. Pois então, que o ilustre filho e herdeiro desta Ilhas do continente africano repouse em paz, na certeza que a história sentenciará os identificados infames.
Amílcar Cabral revolucionário, conquistador dos valores da liberdade, o construtor das pontes em busca de harmonia, da paz para o estado social, da dignidade humana, na certeza de que não haverá independência e, muito menos, enquanto permanecer a cachorrada política em desempenho a baixo nível no parlamento. Amílcar Cabral, e demais cabo-verdianos com a dupla nacionalidade, não poderão candidatar-se nem ser eleitos, contudo podem eleger a pessoa de presidente da república. A história da democracia e das democratas bestas.
O tolo continua a combater o fantasma.
Cabral ka mori, Cabral eh gritu di povu!
Cidadela, 28 de Maio de 2026
(Continua numa outra ediçao deste jornal)
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