O primeiro-ministro considerou hoje que Cabo Verde é hoje um país democrático, com “boa governança, respeitado e com um nível de reputação muito alto” no mundo, comparado com o resto de África e outras nações.
Ulisses Correia e Silva falava em entrevista à Inforpress sobre o percurso de Cabo Verde, a propósito das celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, a assinalar no dia 05 de Julho.
“Cabo Verde deu um salto significativo. Um país que conseguiu a nível do desenvolvimento humano ganhos assinaláveis, se compararmos com aquilo que tínhamos antes. Estou a falar de educação, saúde, economia, rendimento, a redução da pobreza (…) apesar dos problemas que temos hoje, olhando para trás, a vivência que tivemos durante esse período, é de assinalar. O país fez progressos importantes”, enfatizou.
Na altura que se deu a Independência Nacional, 05 de Julho de 1975, Ulisses Correia e Silva, hoje primeiro-ministro de Cabo Verde, tinha 13 anos acabados de completar, e disse lembrar-se, perfeitamente, do momento, tendo assistido a cerimónia no Estádio da Várzea onde presenciou o descerramento da bandeira portuguesa e o hastear da de Cabo Verde.
Descreve que na altura houve, por um instante, quase que um redemoinho no local, recordando também a dificuldade em se içar a bandeira, que o momento foi, de facto, de “grande festa”, com muita gente, movimentação, e um cerimonial muito participado, embora na altura os discursos não estariam no centro das atenções.
“Embora criança, lembro-me bem desse dia. Sentia-se que algo estava a acontecer. Não só pelo movimento, participação, festa…tudo isso são memórias que transportam para aquilo que aconteceu depois. Todo o mundo estava ansioso por esse momento. Creio que foi um momento único e deve ser celebrado”, contemplou, longe de pensar que hoje estaria na governação do país.
Aos 13 anos não se tem esse pensamento e muito menos essa visão, entretanto, passando da fase de adolescente para estudante universitário, em Portugal, a consciência política começou a chamar mais atenção.
Prosseguindo nas suas lembranças, Ulisses Correia e Silva, que nasceu e viveu no Platô (centro histórico da Praia) até aos seus 16 anos, circulando pela Achada Santo António e outros bairros, disse que aí foi tomando consciência do nível da pobreza, da construção e outros sinais.
“A zona onde temos a Assembleia Nacional era um descampado, e toda envolvente, com muitos problemas sanitários. Quem vê a Achada de Santo António hoje e outros bairros… Cabo Verde não tem absolutamente nada a ver com a data de 1975, nem com a década de 80”, comentou.
Analisando todo esse percurso, a mesma fonte sublinhou que Cabo Verde teve desenvolvimentos “muito importantes” não só a nível do desenvolvimento humano, que toca a vida das pessoas, a todos os níveis, mas também a nível da edificação urbanística, organização, entre outros aspectos, pelo que, apesar de todos os problemas que ainda o país tem, Cabo Verde deu “um salto significativo”.
Olhando para a década 70/80, Correia e Silva denota que o país teve um ponto de partida “muito difícil” do ponto de vista de vida material das pessoas, do ponto de vista político, tendo em conta o regime, reiterando que o que se tem hoje é um país democrático, com “boa governança, respeitado e com um nível de reputação muito alto” no mundo, comparado com o resto de África e outros países.
Segundo o chefe do Governo, pode-se tirar lições desse trajecto “muito difícil”, clarificando que Cabo Verde tem um percurso de uma nação resiliente muito antes de ter sido um país independente em 1975, porque com cinco séculos e meio de história que moldou a sua cultura, identidade e criou laços com vários países do mundo, por causa da diáspora cabo-verdiana que data do século dezoito (Sec.XVIII).
“Tivemos 500 anos de país colonizado. O marco da independência é um marco muito importante. A soberania é um acto importante, ter a nossa capacidade de governar o país”, assinalou, transportando a memória novamente para o partido único, cujo período considera também de lições, mas disse que hoje olhando para trás, há que alertar a memória que esse modelo de governação “não deverá ser repetido”.
Depois chega a democracia em 13 de Janeiro de 1991, um marco igualmente significativo, que segundo Ulisses Correia e Silva, veio “mudar tudo”.
“Entrar na era de países democráticos. Isso mudou muito, mudou tudo. A liberdade, a capacidade das pessoas se exprimirem… não é só um problema de ter mais ou menos partidos, ou apenas a instalação de eleições multipartidárias. Foi, de facto, libertar o cabo-verdiano para ter voz, cidadania activa, política, poder ter opções de associação e participação”, elucidou.
“Ganhos importantíssimos. Quer dizer que toda a nossa história é uma história de resiliência, superação, mas de ambição. O cabo-verdiano mesmo estando em dificuldade ambicionamos conseguir mais e melhor”, acrescentou.
Orgulhoso por o país ter caminhado “vencendo etapas”, Ulisses Correia e Silva que, enquanto primeiro-ministro tem as rédeas da condução do destino de Cabo Verde, destacou os ganhos conseguidos, ciente dos desafios que o país tem pela frente.
Desafios, nomeadamente no sentido de aumentar a resiliência do país, reduzir a sua exposição aos choques externos, choques naturais com secas severas, os efeitos das mudanças climáticas, o que pressupõe conseguir reduzir a dependência energética, aumentar a penetração das energias renováveis, diversificar a economia, entre outros factores.
“Precisamos reduzir essas pressões a choques externos”, almejou, apontando ao mesmo tempo que a água é um outro “importante desafio existencial” de Cabo Verde, devendo, nesse particular, ter alternativas à falta ou irregularidade da chuva, depreendendo, entretanto, que o caminho que o Governo está a traçar nessa matéria, é o que parece ser mais correcto, isto é, através de soluções tecnológicas.
Correia e Silva que deseja criar, cada vez mais, “condições de felicidade” às pessoas, disse que para perspectivar o futuro há que ser optimista, considerando que o cabo-verdiano sempre foi um povo lutador.
“Temos que passar da resiliência da sobrevivência para a resiliência de desenvolvimento. Isso pressupõe confiança no país e nas pessoas”, ponderou, lamentando o “excesso de politização e partidarização” em tudo que é actividade, colocando-se o Estado e o Governo no “centro de tudo”.
Passando revista ao capítulo transportes aéreo e marítimo, muito contestado, o primeiro-ministro admitiu que tem sido um processo “difícil e turbulento”, mas assegurou que se está no caminho de “melhorar significativamente” o sistema.
Com um olhar optimista sobre o futuro do país, Ulisses Correia e Silva perspectiva nos próximos dez/quinze anos, um Cabo Verde com um nível de desenvolvimento superior, com muito melhores condições.
“Que os cabo-verdianos dentro e fora do país confiem em Cabo Verde e no seu futuro”, concluiu.
A Semana com Inforpress
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