Os primeiros 100 dias do segundo mandato presidencial de Donald Trump foram marcados por várias alegações falsas e declarações enganosas por parte do chefe de Estado, amplamente documentadas por órgãos de comunicação e verificadores de factos.
De acordo com a organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras (RSF), a carreira política de Donald Trump “foi em parte definida pela propensão a espalhar falsidades”, tendo feito, ao longo do primeiro mandato, “mais de 30.000 declarações falsas ou enganosas, um volume de imprecisão sem igual na história americana”, incluindo a negação consistente dos resultados eleitorais de 2020.
Também apelidou o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, de “ditador” e acusou-o de se recusar a realizar eleições. Contudo, a Ucrânia está sob lei marcial devido à guerra, o que, conforme a legislação, impede a realização de eleições durante esse período.
Da mesma forma, o Republicano afirmou falsamente que Zelensky tinha apenas 4% de aprovação popular. Sondagens realizadas pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kyiv (KIIS) mostraram que, em fevereiro passado, 57% dos ucranianos confiavam em Zelensky.
Em janeiro passado, pouco tempo depois de tomar posse, Trump afirmou que a sua administração tinha “identificado e impedido que 50 milhões de dólares (44 milhões de euros) fossem enviados para Gaza para comprar preservativos para o [movimento islamita palestiniano] Hamas”.
No primeiro discurso do ano perante o Congresso, em março, Trump declarou ter “herdado do último Governo uma catástrofe económica e um pesadelo inflacionista”.
Na realidade, a inflação atingiu um pico de 9,1% em 2022, sob a Presidência de Joe Biden, mas Trump não herdou uma economia desastrosa em nenhum aspeto.
A taxa de desemprego desceu para 4% em janeiro, mês de transição de executivos, enquanto a economia cresceu uns saudáveis 2,8% em 2024. Os rendimentos ajustados à inflação cresceram de forma constante desde meados de 2023. E a inflação, ainda a 3% em janeiro, estava abaixo do pico de 2022, quando Trump proferiu o discurso.
Na semana passada, Donald Trump afirmou falsamente que os preços dos alimentos estão a “cair e a descer”. Na verdade, os preços dos alimentos continuaram a subir, mesmo antes de ter imposto tarifas quase globais de 10% no início deste mês, segundo uma verificação de factos feita pela televisão CNN internacional.
Tarifas e guerra comercial com a China
Trump repetiu este mês a frequente alegação falsa de que, antes da primeira Presidência (2017-2021), a China “nunca pagou 10 cêntimos a nenhum outro Presidente” em tarifas.
Contudo, além de serem os importadores dos EUA a fazerem os pagamentos das tarifas, os EUA arrecadaram milhares de milhões de dólares em taxas alfandegárias sobre as importações chinesas durante anos, sublinhou a CNN Internacional.
Aliás, os EUA têm tarifas sobre as importações chinesas desde 1789, com o ‘Tariff Act’, uma das primeiras leis do Congresso dos EUA. O antecessor de Trump no primeiro mandato, o antigo presidente Barack Obama, já havia aplicado tarifas adicionais sobre os produtos chineses.
A Semana com Jornal Económico
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