Wednesday, 18 June 2025

E ECONOMIA

Ulisses Correia e Silva diz-se um homem simples com interacção fácil e de uma relação saudável com o poder

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O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, embala-se nas suas memórias, considerando-se um homem normal, simples, com interacção fácil com as pessoas e de uma relação saudável com o poder, daí que no dia em que sair, sairá “tranquilo”.

 

Ulisses conta que preparou a sua família, mostrando-lhes que ser governante não é profissão, que não estudou para ser ministro ou primeiro-ministro, tendo estudado para ter uma profissão.“No dia em que sair, saio tranquilamente, com nada às costas. Por isso que eu moro na minha casa, não dependo do Estado para viver. Tenho que ter salário, é claro porque o salário é que me dá o rendimento para viver. Mas estou a dizer que não dependo de mordomias, nem de algo que vou levar depois quando sair. Sou desprendido do poder, o que torna mais fácil fazer a democracia funcionar”, manifestou.

 

Ulisses Correia e Silva falava, em entrevista à Inforpress, sobre o seu percurso de vida, numa conversa descontraída, fora do comum, fugindo um pouco às lides políticas de um governante, nesse caso concreto de um primeiro-ministro.

Formado em gestão, no Instituto Superior de Economia, hoje Instituto Superior de Economia e Gestão, Ulisses Correia e Silva, cuja formação foi dirigida para o sistema financeiro, começou a trabalhar área ainda muito jovem, no Banco Cabo Verde em 1989, mas antes fizera uma experiência em termos de estágios no Banco Português do Atlântico, que se calhar já não existe.

Perseguindo o seu destino, teve um período de cerca de apenas seis anos no Banco Cabo Verde, entrando no Governo em 1995, também muito novo, com 32 anos, como secretário de Estado das Finanças, mas sempre com a expectativa de um dia regressar ao Banco de Cabo Verde, o que não aconteceu e nem acontecerá porque naquela instituição bancária encontra-se, agora, na condição de reformado.

E ficou para trás esse desejo. Pois, entra para o Governo como secretário de Estado, depois como ministro das Finanças, depois vai para o Parlamento, presidente da Câmara Municipal da Praia e hoje primeiro-ministro.

Mas é assim… a gente entra e não consegue sair. Gostava de ter a oportunidade de voltar ao Banco de Cabo Verde. Mas, infelizmente, é uma história que passou ao lado. Mas aquilo que foi a experiência profissional foi muito boa”, manifestou.

Nascido na cidade da Praia onde fez todo o seu percurso de vida, infância e juventude, Correia e Silva que veio de uma família dita classe média, os pais eram funcionários públicos, tem uma ligação a Santa Cruz, porque o pai é de lá, com o Maio, porque a mãe é filha de maiense, também uma ligação ao Fogo, porque a avó é do Fogo.

Tem seis irmãos, meninas e rapazes, hoje feitos homens e mulheres, considera ter vivido “confortavelmente”, estudado na Escola Grande, ali na Pracinha do Platô, onde fez a quarta classe.

Depois foi para o Liceu Adriano Moreira, hoje Liceu Domingos Ramos, sido mudado o nome na transição, depois da Independência, conforme conta, lembrando o “bom ambiente” do liceu, da escola, onde estabeleceu amizades, em que muitos ainda “continuam e perduram” até hoje.

Quem vê Ulisses Correia e Silva não pensa que praticou desporto, pois jogou futebol, basquetebol e andebol, momentos que permitiram criar “muito sentimento” de amizade e de partilha.

 “Tínhamos boas equipas, principalmente basquete e andebol. Foi nessa parte aí que conseguíamos fazer algum intercâmbio, conhecer outras ilhas. Íamos de barco, não tínhamos dinheiro para pagar avião. Ficávamos nos centros de acolhimento que eram arranjados para podermos lá estar, todos no mesmo espaço. Coisas simples, não com a comodidade que a gente tem hoje, mas que criavam muito sentimento de amizade e de partilha. Bons tempos”, recordou.

Quem é o Ulisses Correia e Silva? Face à pergunta descreve-se como um homem, um ser humano simples, normal e com interacção fácil com as pessoas.

“Não faço aqueles exercícios de estar à frente do espelho, a perguntar quem sou, como estou… há quem faça, com o ego inflamado. Não é o meu estilo. Tento ser o mais simples possível no exercício de cargos com responsabilidade, que às vezes exige recato, em não estar em todos os espaços e momentos, mas isso não elimina essa disponibilidade para estar onde está o cabo-verdiano normal. É assim que me classifico. Exercício de cargos, qualquer que seja, são sempre transitórios, temporários”, comentou.

Assim pensando, conta que preparou a sua família, mostrando-lhes que ser governante não é profissão, que não estudou para ser ministro ou primeiro-ministro, tendo estudado para ter uma profissão.

No dia em que sair, saio tranquilamente, com nada às costas. Por isso que eu moro na minha casa, não dependo do Estado para viver. Tenho que ter salário, é claro porque o salário é que me dá o rendimento para viver. Mas estou a dizer que não dependo de mordomias, nem de algo que vou levar depois quando sair. Sou desprendido do poder, o que torna mais fácil fazer a democracia funcionar”, manifestou.

Casado, pai de dois rapazes, todos maiores, mas ainda jovens, um vive na Suíça e outro a estudar nos Estados Unidos da América, Ulisses Correia Silva considerando-se um homem também tranquilo, lamenta, pela sua condição de governante do país, ser pisado muito, não fisicamente, mas nas redes sociais e na comunicação social, por exemplo.

Fazem tudo e mais alguma coisa, mas não me concentro nisso. Não sou daqueles que andam atrás do facebook para ver o que é que se está a publicar, não se está a publicar ou o que é que dizem de mim. Não faço isso. Até por uma questão de sanidade mental, para me proteger, para o meu próprio equilíbrio”, exteriorizou.

“Eu é que comando o que quero ver. Há pessoas que gostam de estar nesta viagem. Realizam-se quando magoam os outros, mas também há estratégia política por detrás… querem atingir, querem denigrir”, lamentou.

A morte do pai foi a mais dura realidade que marcou a sua vida e que mantém na memória, mas há outras “histórias boas” que têm a ver com o período da infância e adolescência que viveu com “muita simplicidade”, e lhe dá vontade muitas vezes de voltar a esses tempos.

Conta que no ambiente familiar, na sua casa, desliga-se e não discute política, mas que quando vai à casa dos pais, isso é inevitável, “até porque gostam”.

“Depois de sair do gabinete, do trabalho, aos fins-de-semana, é estar com a família, interagir com amigos e com os próximos. Não posso estar com a política 24 horas por dia”, disse Ulisses Correia Silva, que aprecia uma boa bebida, um bom prato, na medida certa, uma boa cachupa, cozido de bacalhau, mas não leva jeito para a cozinha, nem quando estudante aprendeu, preferindo ir ao supermercado, comprar já pronto, chegar e aquecer.

Embalado nas suas lembranças, viaja agora para a política, tendo-se identificado com os ideais do Movimento para a Democracia (MpD), recordando que na década de 80, regime de partido único, havia “condições favoráveis” para fazer actividade política em Cabo Verde.

Mas em Portugal, prossegue nas suas lembranças, o ambiente político era bem diferente porque um país já democrático, conquistado em Abril de 1974, onde as pessoas e mesmo os estudantes, conforme conta, tinham essas referências e sentiam isso.

Do núcleo, muitos deles contemporâneos hoje, que fazia “transpirar questões políticas”, descontentamento relativamente ao regime de Cabo Verde, na altura, dando um sinal de alerta, aponta Eurico Monteiro, Jorge Carlos Fonseca, Jaime Inocêncio, Zé Tomás Veiga, Mário Silva, o Maica, Alfredo Teixeira, só para citar alguns deles.

E em 1990 já estávamos, em Cabo Verde, a sentir que alguma coisa estava a mudar-se”, disse.

Questionado se almeja chegar à Presidência da República, Ulisses Correia e Silva responde taxativamente que não, que nunca traçou esse objectivo, observando que quando entrou na política as coisas foram acontecendo.

“Não tive um calendário, um calendário de cargos, agora você vai ser isto, depois aquele outro. Até porque quando eu tinha 17 anos, uma das coisas que eu disse que não queria fazer era entrar na política e fumar. Fumei durante vários anos e ainda estou na política. Portanto, as coisas foram acontecendo e vão continuar a acontecer”, ponderou.

“Mas não há nenhuma programação, dizer que tenho essa meta, esse objectivo, que estou a trabalhar para ser o Presidente da República. Não estou a construir esse caminho... não está nas minhas prioridades”, declarou.

A cumprir dois mandatos como primeiro-ministro, e com as eleições já à porta, Ulisses Correia e Silva finaliza, realçando que gostaria de deixar um Cabo Verde melhor para as pessoas, essencialmente.

Entendo que devemos trabalhar para conseguir, dentro dos calendários que nós temos de 2026, mas seguramente por mais cinco anos, entregar aos cabo-verdianos esse país bem diferente e melhor”, almejou.

 

A Semana com Inforpress

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