Os familiares de Bana reagiram com “profundo repúdio e indignação” à música “Amor sofredor” lançada por Zerui de Pina e que recupera um dueto com o cantor gravado há mais de 16 anos, nos Estados Unidos da América.
A filha mais nova do falecido artista cabo-verdiano, Luz Gonçalves, que falou em nome da família, disse à Inforpress que o sentimento é de “profundo repúdio e indignação” por o lançamento ter sido realizado “sem qualquer autorização, consentimento ou conhecimento prévio” da família do artista.
“Lamentamos profundamente que, sob pretexto de uma suposta homenagem, se perpetue um acto que em nada honra a memória de Bana”, sublinhou a mesma fonte.
Para Luz Gonçalves, a atitude de Zerui de Pina carrega consigo uma “enorme falta de respeito” pela dignidade, pela obra e pela qualidade artística, valores que seu pai sempre defendeu e que fazem parte do seu legado.
“O nosso posicionamento decorre do profundo respeito que temos pelo legado do Bana, e da responsabilidade que sentimos em zelar pela preservação da sua memória, da sua obra e dos valores que ele sempre defendeu ao longo da sua vida”, reiterou.
Mais do que uma questão legal, o lançamento da música, expõe sobretudo, ressaltou, uma questão de princípio e ética, já que qualquer iniciativa que envolva o nome, a voz ou a imagem do falecido cantor deve ser conduzida com “transparência, diálogo e respeito pela família e pelo próprio legado artístico”.
Contudo, conforme Luz Gonçalves, o que ocorreu foi o oposto, um acto unilateral, de “exploração indevida” da memória e do talento do seu pai, com o objectivo de tirar “algum tipo de proveito pessoal, ainda que disfarçado, sob o pretexto de uma homenagem, pois a principal forma de homenagem é o respeito”.
A filha disse que a família tentou o contacto directo com o artista Zerui de Pina, mas recebeu como única resposta a alegação de que teria obtido autorização do Bana, isto quando o cantor já faleceu há alguns anos.
Por isso, os familiares pedem a retirada imediata do lançamento de todas as plataformas onde a música se encontre disponível, como forma de reparação do acto cometido e de respeito pela memória do artista.
Caso essa retirada não ocorra de forma voluntária por parte do artista e de todos os envolvidos, a família, ressaltou, reserva-se no direito de recorrer às instâncias judiciais competentes.
“Estamos, como sempre, abertos ao diálogo, mas firmes na defesa do que é justo e devido à memória do nosso marido e pai”, concretizou Luz Gonçalves na exposição feita à Inforpress.
O lançamento do single “Amor Sofredor”, nas plataformas digitais, aconteceu a 11 deste mês com o artista Zerui de Pina a recuperar um dueto com o saudoso cantor Bana, gravado há mais de 16 anos, nos Estados Unidos.
Numa conversa também com a Inforpress, no dia em que o músico foi aniversariante, Zerui de Pina contou que a intenção era continuar a cumprir a sua promessa de “agraciar” os seus fãs por esta ocasião com um single, após ter lançado, no ano passado, uma música em homenagem ao artista Biús.
A Semana com Inforpress
À Família de Bana: deixem-se de frescuras, a memória não é propriedade privada
Com todo o respeito que se deve a uma figura como o Bana — e que alguns familiares parecem confundir com posse — convém dizer, sem rodeios: os primeiros verdadeiros guardiões da memória dum artista são os seus pares, os seus colegas de palco, de estúdio e da vida musical. São esses os que estiveram lá quando a criação acontecia, quando se afinava a alma e se gravavam os pedaços de eternidade que agora vocês querem trancar num cofre familiar.Zerui de Pina resgatou uma gravação que não é só vossa — é património cultural, é memória partilhada. Foi feita com consentimento do próprio Bana, quando estava vivo, lúcido, e em plena actividade artística. Agora, querer apagar isso, censurar e ameaçar com tribunal… parece mais um acto de egocentrismo mal disfarçado de “respeito pela memória”.
Aliás, o verdadeiro desrespeito pela memória de Bana seria justamente impedir que o povo que o amava possa continuar a ouvir a sua voz, mesmo que em novos arranjos ou parcerias. É isso que mantém o artista vivo: a música, a partilha, a circulação. Não é com comunicados dramáticos que se preserva legado — é com generosidade e visão cultural.
Não se homenageia Bana com silêncios impostos. Homenageia-se com sons, com alma, com coragem. E se há mágoas, resolvam-nas com diálogo — não com censura.
O artista partiu, mas a música ficou. E se há alguém com direito e sensibilidade para fazer essa música chegar ao público, são os colegas que com ele a fizeram nascer.
Menos drama e mais arte. Menos tribunal e mais coração. Please.
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