“Onésimo Silveira não era um grande jogador do uril, mas era um apaixonado que jogou o uril durante toda a sua vida. O único intelectual cabo-verdiano a praticar o jogo do uril, o que terá promovido imenso o jogo, uma vez que, segundo consta, a maior parte da elite cabo-verdiana considerava o jogo uma prática de desocupados”, lembrou o vereador.
Esta decisão está sustentada por uma deliberação, proposta pelo executivo camarário de São Vicente, e aprovada quinta-feira em unanimidade pelos eleitos municipais durante sessão ordinária.
De acordo com o executivo, o objectivo desta iniciativa é proteger o património cultural intangível de São Vicente, nos termos do artigo 7º da Lei nº 85 / IX /2020, que aprova o Regime Jurídico de Protecção e Valores do Património Cultural Intangível.
“O jogo do uril, herança do continente africano, ora proposto a património cultural municipal, é praticado em todas as ilhas do arquipélago, mas é na ilha de São Vicente que a sua prática é mais intensa”, descreveu o vereador Albertino Graça na apresentação do documento à plenária.
De acordo com a deliberação, a particularidade da ilha de São Vicente reside no facto de ser a última do arquipélago a ser povoada, no século XIX, e ter recebido uma sociedade e uma cultura cabo-verdiana já definida nos séculos anteriores nas outras ilhas.
Conforme a mesma fonte, o jogo do uril acrescenta elementos específicos identitários que carecem de uma promoção e incentivo à sua salvaguarda. Reforça ainda que a Câmara Municipal de São Vicente prevê no seu regulamento orgânico medidas para salvaguarda do património, pelo que o projecto pretende ser um contributo para a revitalização e valorização das imaterialidades culturais sobre o desenvolvimento local.
Isto, clarificou, perspectivando o jogo do uril na construção das dimensões identitárias cabo-verdianas, na reorganização dos significados nas suas dimensões sociais e culturais, no contexto insular, especificamente na ilha de São Vicente e no Mindelo, circunscrevendo a sua especificidade em relação aos jogos da sua origem e, por outro lado, reconhece a sua importância na saúde e na educação formal.
Conforme os proponentes, a instituição do dia 16 de Fevereiro como dia municipal do uril, data do nascimento do falecido presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Onésimo Silveira, justifica-se pelo facto dele ter impulsionado o desenvolvimento do jogo nessa ilha.
“Onésimo Silveira não era um grande jogador do uril, mas era um apaixonado que jogou o uril durante toda a sua vida. O único intelectual cabo-verdiano a praticar o jogo do uril, o que terá promovido imenso o jogo, uma vez que, segundo consta, a maior parte da elite cabo-verdiana considerava o jogo uma prática de desocupados”, lembrou o vereador.
Acrescentou que Onésimo Silveira viveu muitos anos no estrangeiro sempre acompanhado pelo seu tabuleiro de uril e manteve a diáspora cabo-verdiana, nomeadamente São Tomé, sempre ligada ao jogo.
Além disso, referiu, “trabalhou imenso na constituição de uma associação de jogadores do uril de modo a preservar esse jogo, tendo sido elaborados e discutidos os seus estatutos.
Lembrou ainda que nos seus últimos anos de vida, Onésimo Silveira já não podia jogar uril mas pedia à filha ou alguém que o levasse na sua cadeira de rodas, para a Praça de Nhô Bruno para ir assistir aos jogos do uril.
O jogo do uril (também conhecido por ouri ou ouril) pertence à família dos jogos de Mancala (jogos de tabuleiro). É um jogo simples, concebido para ser jogado entre dois jogadores cujo objectivo é obter o máximo de sementes possível.
É jogado num tabuleiro de madeira com 12 cavidades, contendo cada uma quatro pedras no início da partida. O jogo baseia-se em nove regras que devem ser previamente conhecidas.
A Semana com Inforpress
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