Em declarações à Inforpress, começou por explicar que as festas de Santo e de Romaria, presentes em todo o território nacional, assumem na ilha do Fogo uma designação específica, "bandeiras".
Esta denominação, segundo disse, está relacionada com o estandarte que representa cada santo, carregado e desfraldado durante os dias festivos e, por vezes, mantido em exposição mesmo após o encerramento da celebração.
Ao contrário de outras festas que se concentram no "dia grande", as bandeiras do Fogo caracterizam-se por uma preparação mais extensa, com especial destaque para a confecção do xerém, um prato à base de milho pilado, que exige vários dias de preparação, processo esse que culmina no ritual do pilão, prática ancestral que conjuga trabalho físico com expressão cultural, musical e comunitária.
Segundo Fausto do Rosário, o pilão vai muito além da simples tarefa de esmagar milho, é um ritual profundamente enraizado na tradição da ilha, marcado por ritmo, música, cânticos e improvisações.
“São três pessoas trabalhando no pilão ao mesmo tempo a marcação do ritmo, através de um compasso que nós chamamos colecha, feito na borda do pilão, aos quais depois se junta o som do tambor, a coladeira ou colador, portanto, aquele que puxa, digamos assim, a cantiga, improvisando, e as restantes coladeiras que fazem o baixão, isto é, que é o coro que também vai acompanhando isso”, explicou.
Por outro lado, sublinha que o pilão é também espaço de desafio e criatividade, onde tamboreiros e coladeiras se revezam, improvisando letras que evocam memórias de festas passadas ou exaltam os festeiros do presente.
“É indispensável, é um ritual que existe em todas as bandeiras, portanto, quer no interior da ilha, quer também na cidade, o pilão é indispensável, varia, portanto, podemos ter nas bandeiras menores, realiza-se durante dois a três dias e nas de maior dimensão pode durar até sete dias”, afirmou.
No entanto, alertou para o que considera ser uma tendência excessiva, porque “hoje há festas onde o pilão chega a durar oito ou dez dias, o que é um exagero e retira autenticidade ao ritual, que deve respeitar os seus limites tradicionais”.
Esclareceu ainda que o número de dias e a dimensão da celebração dependem do festeiro, dos recursos disponíveis e do impacto da bandeira na comunidade, ou seja, há bandeiras que envolvem toda uma localidade e outras que chegam a mobilizar a ilha inteira, como é o caso das festas de São Filipe.
Fausto do Rosário explicou ainda a distinção entre a componente tradicional da bandeira de origem multissecular e as comemorações mais recentes do Dia do Município.
A Festa de São Filipe, enquanto expressão religiosa e cultural, foi originalmente instituída como Festa da Ilha pelo vice-rei, sendo celebrada de forma obrigatória tanto na ilha do Fogo como em Santiago, durante os dias consagrados a São Filipe e São Tiago.
A Semana com Inforpress
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