Moradores da cidade da Praia receiam que o lixo acumulado na capital sirva de rastilho para surtos de dengue ou malária, numa altura em que começa a estação das chuvas, propícia à propagação de mosquitos portadores de doenças.
O morador disse que, há meses, havia vigilantes junto aos contentores, uma medida do município que visava acabar com despejos no chão e vandalismo, mas desapareceram."Já há muito tempo que não os vejo. Podiam colocar os jovens desempregados a recolher o lixo nos bairros. Era uma forma de dar trabalho e criar responsabilidade", acrescenta.
"Todos os dias há lixo aqui, não sei se é por falta de espaço [nos contentores], mas isso prejudica-nos, principalmente pelo mau cheiro. Chegámos à época das chuvas e isso vai criar paludismo [malária] e dengue", queixa-se Ineida Batalha.
A mulher de 32 anos é cozinheira num restaurante no bairro de Achada Santo António e convive todos os dias com um terreno largo onde se acumulam sacos, alguns abertos, espalhando lixo por toda a rua.
São resíduos depositados todos os dias numa área onde funcionam várias instituições públicas, como um cartório e a Procuradoria-Geral da República.
Há um contentor, sem tampa, rodeado de embalagens, restos de comida e outros resíduos espalhados no chão, deixando um cheiro nauseabundo a poucos metros da entrada do restaurante.
"Isto está a atrair moscas, ratos e nós usamos produtos de limpeza para tentar combater" a imundice, conta Ineida, que pede mais contentores ou uma estrutura fechada que evite que toda a rua esteja exposta ao lixo a céu aberto -- ao sol e à chuva, que está para chegar.
Há dias em que a zona parece uma pequena lixeira, propícia para despejos e onde uma vala situada no meio do terreno é, por vezes, usada como retrete, sem pudores de quem desce e se expõe a céu aberto - um cenário que se repete em recantos de outros bairros da cidade.
A ronda da Lusa pela cidade inclui zonas como Chã de Areia, onde a acumulação de lixo é visível mesmo junto às principais vias.
Carlos Silva, 75 anos, aposentado, caminha diariamente pelas ruas da capital cabo-verdiana e diz que "há sempre contentores cheios de lixo que ficam vários dias sem serem recolhidos".
"Isto representa um risco para a saúde. Nós já perdemos a capacidade de indignação quando esse tipo de problemas se torna recorrente", refere.
A alguns metros, está Odair Sousa, de 29 anos, colaborador de transportes coletivos e que passa o dia todo junto a um terminal.
Aponta para mais um monte de lixo a céu aberto e queixa-se: "Este lixo está aqui há três dias. Ontem começou a chover e já cheira mal. Quando o cheiro é forte, mudamos de lugar. Gostávamos que estivesse mais limpo porque afeta a imagem do país", afirma.
A zona de Safende, noutro extremo da cidade, sofre do mesmo problema.
Ivone Lopes, 57 anos, proprietária de um bar, conta que o mau cheiro nas imediações até tem afastado os clientes.
"Temos dois contentores, mas um deles é só uma lata grande, sem tampa. Costumo ligar [para a câmara municipal] a reclamar e eles vêm, mas depois o lixo volta a acumular-se. A câmara tenta, mas não consegue. Deviam recolher o lixo de manhã e à noite", relata.
Em Eugénio Lima, outra zona da capital, Kevem Varela, 28 anos, teme que a acumulação de lixo agrave a proliferação de mosquitos portadores de malária e dengue.
"Passámos a tapar o nariz. Já encontrei cães e gatos mortos no lixo. Se ninguém o recolhe, o cheiro torna-se insuportável", afirma.
O morador disse que, há meses, havia vigilantes junto aos contentores, uma medida do município que visava acabar com despejos no chão e vandalismo, mas desapareceram.
"Já há muito tempo que não os vejo. Podiam colocar os jovens desempregados a recolher o lixo nos bairros. Era uma forma de dar trabalho e criar responsabilidade", acrescenta.
A Lusa tentou obter esclarecimentos por parte da Câmara da Praia e do Instituto de Saúde Pública, mas não obteve respostas.
Cabo Verde está desde o início do mês em situação de contingência, até início de outubro, para prevenir novas epidemias durante a época das chuvas.
Na última semana, a nova representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Cabo Verde, Ann Lindstrand, defendeu uma resposta urgente para evitar que o país perca a certificação de país livre de malária.
Entretanto, o ministro da Saúde, Jorge Figueiredo, referiu que o país já lidou com 30 casos de malária desde janeiro, 15 importados e 15 de transmissão local, e que agiu "rapidamente" para evitar a eclosão de uma epidemia.
Há cerca de duas semanas, o presidente da Câmara da Praia, Francisco Carvalho, pediu apoio ao Governo para reforçar meios, camiões e contentores, no âmbito das ações de prevenção e combate a doenças transmitidas por mosquitos.
A Semana com NMLusa
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