quarta-feira, 13 agosto 2025

Sudão à beira de ter dois governos paralelos?

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O novo governo rival na região sudanesa de Darfur não foi reconhecido internacionalmente, mas já suscita receios de uma nova guerra civil, mais sofrimento humanitário e até o possível colapso e divisão do país.

O Sudão, devastado pela guerra, parece estar um passo mais perto da divisão. Na semana passada, uma coligação liderada pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) - que controlam quase toda a região de Darfur e partes do sul - anunciou a formação de um governo rival na região de Darfur.

O anúncio já era esperado, depois de as RSF e outros grupos armados terem formado a Aliança Fundadora do Sudão (Tasis) em março. Na altura, a aliança disse que em breve estabeleceria um "Governo de Paz e Unidade" nas áreas sob o seu controlo.

A nova administração, que se intitula "Governo de Transição pela Paz", é liderada pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, comandante das RSF. Em comunicado, o grupo afirma que pretende construir um Sudão democrático, secular e descentralizado, mas também reivindica autoridade sobre todo o território nacional.

 

Condenação da União Africana e da ONU

A resposta foi imediata. O governo reconhecido internacionalmente, liderado pelo general Abdel-Fattah Burhan e pelo primeiro-ministro Kamil Idris, rejeitou o novo governo que classificou como uma "entidade ilegítima".

A União Africana (UA) e a ONU também condenaram a iniciativa. "A criação de um governo paralelo tem sérias consequências para os esforços de paz e para o futuro existencial do Sudão", considerou a UA, cujos 55 Estados-membros não reconhecem o "chamado governo paralelo".

Da mesma forma, a ONU alertou que a existência do novo governo poderia aprofundar a fragmentação do Sudão e complicar os esforços diplomáticos para acabar com a guerra no país.

A guerra começou em abril de 2023, quando o chefe do exército sudanês, Burhan, e Dagalo, da RSF, entraram em conflito por causa da inclusão das RSF nas Forças Armadas Sudanesas (SAF). 

 

Uma "manobra política"

"Ao anunciar uma estrutura governamental, as Forças de Apoio Rápido estão a tentar impor-se nos debates internacionais, não como uma milícia a desarmar, mas como uma parte interessada política com autoridade governamental paralela", disse à DW Amgad Fareid Eltayeb, do grupo de reflexão sudanês "Fikr for Studies and Development".

"Por trás disso está uma manobra cuidadosamente planeada e profundamente política, com consequências de longo alcance para a batalha narrativa sobre legitimidade, governação e envolvimento internacional na guerra catastrófica do Sudão", acrescentou.

Na sua opinião, o anúncio foi feito pouco antes de uma reunião do grupo Quad, uma aliança entre EUA, Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos, que buscava iniciar um diálogo entre os lados em guerra. O objetivo era emitir uma declaração conjunta apelando ao fim das hostilidades e à melhoria do acesso humanitário.

 

Guerra alimentada por atores externos

No entanto, a reunião foi cancelada. Uma nova data ainda não foi determinada, tendo alguns diplomatas sugerido que poderia ser reagendada para setembro.

"Os Emirados Árabes Unidos inseriram uma mudança de última hora para excluir a presença do exército e da RSF no futuro processo de transição do Sudão", disse uma fonte diplomática à agência de notícias AFP.

Amgad Fareid Eltayeb, que anteriormente serviu como chefe de gabinete adjunto do ex-primeiro-ministro sudanês Abdalla Hamdok e como conselheiro político da missão política especial da ONU no Sudão, acredita que os Emirados Árabes Unidos "acrescentaram a cláusula como camuflagem para justificar o apoio pró-RSF, uma vez que não são genuínos em relação à transição democrática ou civil no Sudão."

Outros observadores concordam que a guerra no Sudão continua a ser alimentada por atores internacionais. Os Emirados Árabes Unidos são acusados de apoiarem as RSF. Mas Abu Dhabi refuta as acusações.

 

Situação humanitária piora

Enquanto isso, o sofrimento da população aumenta. Segundo a ONU, mais de 12 milhões de pessoas foram deslocadas desde o início do conflito - 7,7 milhões internamente e 4,1 milhões em países vizinhos. Estima-se que mais de 150 mil pessoas já morreram.

Dados apresentados este domingo (03.08) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância apontam que mais 640.000 crianças menores de 5 anos correm perigo devido à propagação da cólera em Darfur, apelando para que seja permitido o acesso permanente e desimpedido para combater o surto mortal.

Mohamed Osman, da Human Rights Watch, lembra que as partes em conflito são obrigadas a prestar apoio humanitário os civis, nas áreas sob seu controlo. "Em muitas zonas em Darfur controladas pelas RSF e onde estabeleceram o seu governo, há bloqueio ou saque ajuda humanitária. Não demonstram respeito pela vida humana", disse.

O analista Amgad Fareid Eltayeb acrescenta que nestas áreas, "em vez de ordem e justiça, as RSF impuseram um regime de terror: violência sexual sistemática, massacres e destruição."

Com dois governos rivais, milhões de deslocados e uma guerra alimentada por interesses externos, o Sudão enfrenta um dos momentos mais sombrios de sua história. A paz parece distante e o risco de uma divisão definitiva do país cada vez mais real.

 

A Semana com DW África 

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